Morre no Rio de Janeiro aos 93 anos o cartunista Jaguar
Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, conhecido como Jaguar, foi um dos fundadores do Pasquim
Cartunista Jaguar, fundador do Pasquim / Foto: Arquivo pessoal
Morreu, neste domingo (24), o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, aos 93 anos. Um dos fundadores do Pasquim, jornal satírico que enfrentou a ditadura militar, ele estava internado com pneumonia no Copa D’Or, no Rio, há três semanas. A morte do cartunista foi confirmada pela viúva, Celia Regina Pierantoni.
Mês passado, durante as comemorações do centenário do GLOBO, Jaguar posou para um ensaio fotográfico da revista ELA dedicado a quase centenários. Na ocasião, deu sua última entrevista. “Tive uma vidinha boa. Não me aprofundava em meditações, ia vivendo o momento”, disse, acrescentando que ainda seguia a mesma filosofia. “Não planejo o futuro nem lamento nada do que fiz”, afirmou o autor de “Ipanema, se não me falha a memória”.
Carioca nascido em 29 de fevereiro de 1932, Jaguar começou sua carreira desenhando para revista Manchete em 1952. Adotou seu famoso pseudônimo por sugestão do cartunista Borjalo. À época, Jaguar trabalhava no Banco Brasil, subordinado ao cronista Sérgio Porto, que o convenceu a não abandonar o emprego para se dedicar exclusivamente à carreira no humor.
Nos anos 1960, Jaguar se consagrou como um dos principais cartunistas da revista Senhor e colaborou também para a Revista Civilização Brasileira, a Revista da Semana, a Pif-Paf e os jornais Última Hora e Tribuna da Imprensa. Em 1968, lançou seu primeiro livro, “Átila, você é bárbaro”, um sucesso instantâneo, que, com ironia, combatia o preconceito, a ignorância e a violência. “Comparado com os vândalos de hoje, Átila não passa de um doce bárbaro”, afirmou o autor. O cronista Paulo Mendes Campos descreveu a obra como “um livro de poemas gráficos”.

Ao lado de Tarso de Castro e Sérgio Cabral, fundou o Pasquim em 1969. Irreverente e combativo, o jornal marcou a imprensa alternativa que floresceu à sombra ditadura militar e congregou alguns dos maiores expoentes do jornalismo e das artes brasileiras, como Millôr Fernandes, Ziraldo, Henfil, Paulo Francis e Sérgio Augusto.
Jaguar batizou o jornal e desenhou um dos símbolos mais populares do Pasquim, o ratinho sacana Sig (de Sigmund Freud), inspirado numa piada que arrancava risadas à época: “se Deus havia criado o sexo, Freud criou a sacanagem”. Neurótico e libidinoso, Zig era apaixonado por Odete Lara e Tânia Scher.
Originalmente, o ratinho havia sido criado para o lançamento da cerveja Skol. Jaguar foi incumbido de desenhar uma história para campanha publicitária e assim nasceu a tirinha “Chopnics”, mistura de “chopp” com “beatniks”, estrelada pelo Capitão Ipanema, o BD (cuja inspiração era o ator Hugo Leão de Castro, o Hugo Bidê, que tinha um ratinho branco, apelidado de Ivan Lessa, que o acompanhava aos bares).
Em 1970, Jaguar passou três meses encarcerado pela ditadura militar e foi solto no réveillon. No Pasquim, o cartunista havia satirizado o Sete de Setembro: deixou de lado o lema “Independência ou morte” e colocou na boca de Dom Pedro I um verso de uma canção de Erlon Chves: “Eu quero é mocotó”. Famoso por ser um dos humoristas mais escrachados do país, ele brincava que prisão “foi a fase mais feliz da minha vida”.
Jaguar foi o único da equipe original a permanecer no semanário até a última edição, em novembro de 1991. No ano anterior, a turma do Pasquim havia sido homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz com o enredo “Os heróis da resistência”.
Jaguar deixa a esposa Célia e a filha Flávia Savary.
Fonte: O Globo
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