• Terça-Feira, 21 de Maio de 2024

Bolsonaro perde o controle e grita com jornalista em Guaratinguetá

Bolsonaro destratou repórter, mandando que ela calasse a boca quando tentava fazer uma pergunta

Bolsonaro destrata jornalista em São Paulo / Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro voltou a protagonizar um novo ataque à profissionais de imprensa. Durante agenda, nesta segunda (21), em Guaratinguetá, no estado de São Paulo, Bolsonaro gritou com uma repórter, mandando que ela calasse a boca enquanto a jornalista tentava fazer uma pergunta.

Bolsonaro foi à cidade para acompanhar a cerimônia de formatura da Escola de Especialistas da Aeronáutica. 

Ao chegar na Aeronáutica, em Guaratinguetá, ele desembarcou do carro oficial sem máscara e cumprimentou e abraçou apoiadores. O fato foi motivo de questionamento pela repórter verbalmente agredida.

Visivelmente irritado, o presidente Jair Bolsonaro mandou uma repórter de uma afiliada da TV Globo e integrantes da sua própria equipe calarem a boca, tirou a máscara e reclamou da CNN Brasil em entrevista após a formatura de sargentos da Aeronáutica nesta segunda-feira (21) em Guaratinguetá (SP).

"CNN? Vocês elogiam a passeata agora de domingo né? Jogaram fogos de artifício em vocês e vocês elogiaram ainda", afirmou Bolsonaro a repórteres, referindo-se aos protestos do último sábado (19) que reuniram milhares de manifestantes pelo país pedindo o impeachment do presidente.

"Essa Globo é uma merda de imprensa. Vocês são uma porcaria de imprensa", disse. O presidente se irritou inicialmente após ser lembrado que foi multado pelo Governo de São Paulo por não usar máscara.

Laurene Santos, repórter verbalmente agredida por Bolsonaro/Foto: Reprodução.
 

"Você quer fazer uma pergunta decente? Eu respondo. Você é da Globo? Não quero conversa com a Globo não", respondeu. O vídeo com a entrevista do presidente foi postado nas redes sociais por um canal bolsonarista.

Em seguida, ele voltou ao tema. Ao ser questionado, mandou a repórter calar a boca.

"Cala a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira. Vocês não prestam", disse.

"A Rede Globo não presta. É um péssimo órgão de informação. Se você não assiste à Globo, você não tem informação. Se você assiste, está desinformado. Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um serviço porco desse", finalizou.

No fim da entrevista, Bolsonaro tirou a máscara repentinamente.

"Vocês acham que vou me consultar com Bonner ou com Míriam Leitão sobre esse assunto? Parem que tocar no assunto. Me botem no Jornal Nacional agora. Estou sem máscara em Guaratinguetá. Está feliz agora?", questionou.

Os ataques de Bolsonaro à jornalista estiveram entre os assuntos mais comentados do dia na rede social Twitter. Hastags como "covardia", "descontrole", "desequilibrado", "surto" e "surtado"  foram usadas por diversos políticos, populares e personalidades para se referir ao fato.

Entre os políticos que se manifestaram publicamente esteve o governador do estado e adversário político do presidente, João Dória (PSDB).

Bolsonaro foi à cidade para acompanhar a cerimônia de formatura da Escola de Especialsitas da Aeronáutica. Aochegar na Aeronáutica, em Guaratinguetá, ele desembarcou do carro oficial sem máscara e cumprimentou e abraçou apoiadores. O fato foi motivo de questionamento pela repórter verbalmente agredida.

Sem máscara, Bolsonaro manda repórter calar a boca/Foto: Reprodução.
 

Bolsonaro também atacou verbalmente, nesta segunda, a Rede Globo, que no último final de semana veiculou um editorial no qual destacava a marca de 500 mil mortos pela Covid-19 registrada pelo Brasil. O editorial foi lido no Jornal Nacional. O âncora, William Bonner, afirmou na ocasião que "foram muitos e muito graves os erros" cometidos pelo governo Jair Bolsonaro durante a pandemia.

Bolsonaro ataca verbalmente a Rede Globo/Foto:Reprodução.
 

Não houve manifestação de pesar da presidência em relação aos mortos pela covid.

"Cala boca" a jornalistas lembra Regime Militar

As falas do presidente contra a jornalista lembram uma cena do Regime Militar na qual o general Newton Cruz manda, com o mesmo tom autoritário, que um repórter cale a boca ao ser questionado diante das câmeras. O fato ocorreu em 1983 e o jornalista agredido na ocasião foi o repórter Honório Dantas.

Na ocasião, Newton Cruz chegou a pular contra o repórter, agarrando ele pelo pescoço. O país vivia os últimos anos do regime militar.

Esta não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro agride verbalmente jornalistas. No ano passado, por exemplo, indagado sobre o caso Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro e investigado por participar de um esquema de "rachadinha" de verba de gabinete, ele disparou contra outro repórter: "vontade de encher tua boca de porrada".

Dados do Repórteres Sem Fronteiras indicam que o Brasil caiu duas posições no ranking de liberdade de imprensa desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência. A organização já contabilizou mais de 400 ataques diretos a veículos de imprensa e jornalistas. As principais vítimas são profissionais da imprensa mulheres.

Gritos de "Fora Bolsonaro"

A visita do presidente à Guaratinguetá também foi marcada por protestos. Ao chegar na Aeronáutica, onde ocorreria a agenda, o presidente foi recebido com gritos de "fora Bolsonaro" e "genocida".

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou uma nota onde chama o presidente de “descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço” entre outros adjetivos semelhantes e que remetem a agressividade como ele tratou as profissionais de imprensa.

Presidente da ABI pede renúncia de Bolsonaro/Foto:Reprodução.
 

Confira a nota na íntegra:

Nota oficial da Associação Brasileira de Imprensa
Renuncie, presidente!

Descontrolado, perturbado, louco, exaltado, irritadiço, irascível, amalucado, alucinado, desvairado, enlouquecido, tresloucado. Qualquer uma destas expressões poderia ser usada para classificar o comportamento do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira, insultando jornalistas da TV Globo e da CNN.

Com seu destempero, Bolsonaro mostrou ter sentido profundamente o golpe representado pelas manifestações do último sábado. Elas desnudaram o crescente isolamento de seu governo.

Que o presidente nunca apreciou uma imprensa livre e crítica, é mais do que sabido. Mas, a cada dia, ele vai subindo o tom perigosamente. Pouco falta para que agrida fisicamente algum jornalista.

Seu comportamento chega a enfraquecer o movimento antimanicomial – movimento progressista e com conteúdo profundamente humanitário. Já há quem se pergunte como um cidadão com tamanho desequilíbrio pode andar por aí pelas ruas.

Mas a situação é ainda mais grave: esse cidadão é presidente de um país com a importância do Brasil.

Diante da rejeição crescente a seu governo, Bolsonaro prepara uma saída autoritária e, mesmo a um ano e meio da eleição, tenta desacreditar o sistema eleitoral. Seu objetivo é acumular forças para a não aceitação de um revés em outubro de 2022.

É preciso que os democratas estejam alertas e mobilizados.

Diante desse quadro, com a autoridade de seus 113 anos de luta pela democracia, a ABI reitera sua posição a favor do impeachment do presidente. E reafirma que, decididamente, ele não tem condições de governar o Brasil.

Outra solução – até melhor, porque mais rápida - seria que ele se retirasse voluntariamente.

Então, renuncie, presidente!
Paulo Jeronimo
Presidente da ABI
 

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